Há muito tempo
atrás, numa galáxia distante…
Em meados dos anos
oitenta conheci Star Wars ou, como dito na época, Guerra nas
Estrelas. Não lembro exatamente em que canal passava (acho que no
SBT) e nem quando foi a primeira vez que assisti algum dos filmes,
mas lá por 87 ou 88, meu pai alugou um videocassete (sim, alugou) e
logo fomos fazer uma carteirinha e pegar alguns filmes em uma
locadora da cidade. Em nenhum momento tive dúvidas, quis alugar Star
Wars.
Lembre-se, além de
eu ser criança, naquela época não existia internet. Ninguém tinha
muitas informações sobre filmes. Bem, o caso foi que de alguma
maneira eu sabia que eram 3 os filmes da Saga, mas quando procurei na
locadora encontrei uma fita com o nome Star Wars IV Uma Nova
Esperança. Fui correndo perguntar para o balconista e foi naquele
momento em que descobri que a história começava da metade e que
algum dia existiriam os filmes que contariam como o império se
estabelecia.
Que ansiedade!
Daquele momento em diante sonhei com o dia em que veria como e porque
o grande cavaleiro jedi Anakin Skywalker se transformou em Darth
Vader, o maior vilão de todos os tempos, e como a misteriosa figura
do Imperador tomara o poder da galáxia.
Em 1999 veio o
primeiro abalo na força. Episódio I – A Ameaça Fantasma era uma
bomba. Anakin nos era apresentado como um pirralho cheio de
midclorians (o que???). O filme já trazia todos os elementos que
marcariam a “nova trilogia”: péssimas atuações, atores sem o
menor carisma (como ambos os que viveram Anakin), excesso de CGI,
tanto em cenários quanto em personagens (e sejamos honestos, nem
hoje o CGI é tão real, imagina no século passado), piadinhas
horríveis (principalmente envolvendo droids ou alienígenas – tem
até piada de peido neste filme!), diálogos constrangedores e enredo
massante, desinteressante e confuso. Sério, alguém entendeu, ou se
importou, com o tal do bloqueio que a Federação do Comércio impõe
a Naboo? E com a corrida de pod? E com as cenas no senado?
Para não falar que
tudo é uma catástrofe, eu digo duas palavras: Darth Maul. O vilão
da vez transborda carisma e perigo com seu sabre dublo e seus
espinhos na cabeça. Alguém que parecia estar a altura até de fazer
frente a Vader, alguém que… morre no fim do filme…
E à partir daí a
trilogia usa deste recurso de ter um vilão por filme. Dooku no II
(ok e no comecinho do III) e General Grievous no III. Péssima
decisão, isso apenas tirava a força (sem trocadilho) dos mesmos.
Quando chegamos no Ep III, por exemplo, não conseguia achar que o
recém apresentado Grievous era grande coisa. Não parecia ser um
grande desafio. Afinal, é preciso grandes vilões para que os
heróis sejam grandes. O que seria do Batman do The Dark Knight sem o
incrível Coringa interpretado pelo Heath Ledger?
Bem, em 2002 saiu ao
Episódio II – O Ataque dos Clones. Alguém consegue não ficar
constrangido em TODAS as cenas envolvendo Anakin e Padmé? É o
romance mais mal desenvolvido que já vi. O padawan tinha a visto
quando criança e era apaixonado por ela desde então e ela… qual o
motivo dela querer ficar com ele no final? Ele se impõe sobre ela em
todo o filme. Neste filme Anakin não é diferente desses caras que
vão em rodeio e agarram mulheres à força. É sem dúvida um dos
piores romances que já vi nos cinemas. Forçado, sem química, sem
propósito. Que saudade de Han e Leia!
Alias, não são
apenas nas cenas com Padmé que o personagem de Anakin é mal
desenvolvido, a relação dele com Obi Wan é sempre muito tensa,
desde o começo. O padawan já tem dez anos de treino jedi e parece
apenas um garoto mimado.
O filme fecha com um
bando de jedis burros, que ao invés de cercar seus oponentes
preferem ir para o meio de uma arena, onde são alvos fáceis. E aí
a cavalaria chega. Os clones encomendados por Zyfo Vias, que nunca
ninguém se pergunta como pagou ou porque encomendou os clones. Tudo
termina numa cena cheia de ação, luzes, barulho e nenhuma emoção.
A Vingança dos Sith
é o melhorzinho dos três. Gosto principalmente das cenas de
Palpatine e das lutas finais. Entretanto, todos os problemas dos
anteriores aparecem novamente aqui. Se nos filmes anteriores Lucas
fez tanta asneira não seria aqui que ele consertaria tudo, certo?
Mas o que mais me incomoda, no fim, é que Darth Vader não é nada.
Oras, ele salvou a vida de Darth Sidious, ok, mas e depois? Ele matou
crianças jedis e o pessoal das federações de comércio e afins.
Poxa, qualquer pelotão de stormtroopers faria o mesmo. O primeiro
desafio dele foi Obi Wan e ele perdeu. Ou seja, passamos três filmes
para descobrir que o grande vilão da ficção científica nada mais
é do que um leão de chácara. E não um dos melhores.
Além disso, se
buscarmos referências sobre este passado nos filmes antigos, veremos
que essa nova trilogia não faz sentido nenhum.
Acho muito triste o
desperdício de potencial. Pense em tudo que George Lucas podia ter
nos apresentado nestes filme. Poderíamos ter visto tanta coisa…
Mercenários em ação, aprendido mais sobre os sith e os jedi, ver a
Rebelião se formando… Isso é o que mais me chateia, Lucas tinha o
sabre de luz e o queijo na mão. E jogou tudo para o alto, preferindo
se focar apenas em efeitos especiais, que passado tão pouco tempo
hoje nos parecem simplórios e artificiais. Até mais do que os dos
filmes mais antigos!
A primeira trilogia
tinha seus defeitos, claro. Mas tinha coração. Possuia personagens
pelos quais nos importávamos, situações criativas, humor na medida
certa, cenas memoráveis. Os episódio de I a III tem Jar Jar Binks.
Assim como a Disney
descartou todo o universo expandido e os chamou de Star Wars
Legends, no meu cânone pessoal a “nova trilogia” simplesmente
não existe. Espero que a força seja forte em J. J. Abrahams e ele
traga no novo filme o Star Wars que estou esperando desde os que vi
no videocassete alugado do meu pai.