quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Meu fim de semana Frankenstein

Mary Shelley, a criadora.
(Fonte: http://exhibitions.nypl.org/)

Clássicos merecem ser conhecidos e apreciados. Nessa vibe que finalmente li o livro Frankenstein, ou o Moderno Prometeu, de Mary Shelley. Não que nunca tivesse tido curiosidade antes, mas faltou oportunidade. E essa oportunidade veio na forma de uma edição pocket vagabunda que comprei por R$ 12,00 em uma grande livraria da minha cidade. Por coincidência, no fim de semana que terminei de ler foi a estreia de Frankenweenie, o qual fui conferir no cinema. E já que estava no embalo, acabei assistindo o filme classicão, com Boris Karloff no papel da criatura, em sequência. Pra completar o lance (como diria o saudoso Mussum), resolvi assistir Frankenstein de Mary Shelley, filmaço dirigido por Kenneth Brannagh em 1994.

A criatura em 3 momentos: no filme de Thomas Edison...
(fonte: http://www.spookyisles.com/)
Quando se pensa em Frankenstein, a primeira imagem que vem à cabeça é do monstrão verde com parafusos no pescoço do filme de 1931. Talvez por causa desta associação grande parte das pessoas acredita ser esse o nome da criatura (que, na verdade, nem nome tem) e não do cientista que a criou. Outra associação que logo as pessoas fazem é que se trata de uma história de horror barata, literatura B. Ledo engano. O livro é um tratado sobre a condição humana, sobre ética na ciência e sobre, porque não?, religião. Tudo isso embalado numa roupagem que mistura terror, mistério, romance e ficção científica. 

Mary Shelley escreveu o livro entre 1816 e 1817, quando tinha apenas 19 anos, ao ser estimulada por seu amigo Lord Byron a criar uma história de fantasmas. Provavelmente inspirada por uma palestra do cientista inglês Humphry Davy, um dos pais da eletroquímica, a que havia assistido quando mais nova, a autora criou a fantástica história da criação de vida em um corpo inanimado através da ciência. Davy, aliás, acabou sendo base para o personagem do professor Waldman no livro.

... interpretada por Boris Karloff...
(Fonte: http://collider.com/)
O livro não foi sucesso de crítica na época, mas logo caiu no gosto popular. Edições atrás de edições foram lançadas e hoje é considerado um dos grandes clássicos do terror, ao lado de Drácula, de Bram Stocker. Por ser tão conhecido e cultuado, o livro logo foi adaptado para outras mídias, como teatro e cinema, sendo a primeira versão cinematográfica produzida por Thomas Edison (sim, ele).

Nos anos 30, o estúdio Universal descobriu nos filmes de monstro uma mina de ouro e se baseou na criatura de Shelley para criar o icônico personagem verde, que acabou sendo usado em uma série de filmes. O filme marcou época e assustou bastante o público naquele tempo. Não sou daqueles xiitas que acham que filmes/séries devem ser absolutamente iguais aos livros/quadrinhos nos quais foram baseados, mas fato é que este filme pouquíssimo tem a ver com a história original, mantendo, basicamente, apenas a ideia da criação de um ser a partir de restos mortais humanos. Claro, isso não é necessariamente uma crítica. O filme se tornou icônico por si só, marcou gerações, e mesmo hoje, mais de 80 anos depois de seu lançamento, é referência no que se trata de filmes de horror.

O filme de Brannagh segue um caminho oposto. O ator/diretor, acostumado em traduzir Shakespeare pra grande tela, teve a intenção de levar as ideias de Mary Shelley mais à risca para seu filme. Isso não quer dizer que seu filme seja 100% igual ao livro. Há algumas intervenções aqui e ali, a maior parte no sentido de agilizar a história para que ela caiba em 2 horas de filme (e me arrisco a dizer que algumas arestas são mais bem resolvidas do que no livro), mas também há duas ou três diferenças mais, digamos, drásticas, em relação ao livro. Por exemplo, os acontecimentos que envolvem a personagem Elizabeth. O desfecho de seu personagem é bem mais impactante do que no livro. Não posso deixar de elogiar aqui as grandes atuações do trio principal, Kenneth Brannagh, Robert de Niro e Helena Bonham-Carter.

... e por Robert De Niro.(Fonte: http://classic-horror.com/)
Frankenweenie é uma grande homenagem. Não só ao filme de 31, mas a todos os filmes de monstros da Universal, assim como outros, como Godzilla. Esse stop-motion resgatou minha fé no seu diretor, Tim Burton, que andava fazendo um monte de filmes sem alma ultimamente (como os pavorosos Alice no País das Maravilhas e Sombras da Noite). Frankenweenie, na verdade, é um remake de um curta do próprio Burton, produzido em 1985, e trata da história de um garoto que revive seu cachorro Sparky depois deste morrer atropelado. É um filme para crianças, então obviamente não dá pra esperar a profundidade do texto de Shelley, entretanto é uma história bastante divertida, conduzida de forma a entreter espectadores infantes e cinéfilos que vão encontrar as referências de filmes do passado.

Passados quase 200 anos de sua publicação, Frankenstein parece longe de ser esquecido. A história trágica do cientista e sua obra continuará sendo contada e servindo de inspiração para novos criadores de histórias darem vida a suas próprias criaturas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário