quarta-feira, 27 de agosto de 2014

As realidades de Philip K. Dick


Philip K.
(Fonte: http://www.radiotimes.com/)
Você acha que não sabe quem é Philip K. Dick, mas assim como nas tramas de suas histórias, a realidade não é exatamente o que parece e as ideias desse escritor se encontram em algum lugar dentro de sua mente.

Nascido em Chicago, em 1928, Philip K Dick escreveu 44 livros e mais de 120 contos, muitos deles organizados em coletâneas. Ao contrário do estilo elegante e calcado em ciência real de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, Dick não tinha problemas em inventar a pseudociência absurda que fosse necessária para contar suas histórias. No meio de seus textos você encontra todo tipo de coisa bizarra, como lesmas lunares e afins. Outra diferença dele é sua visão pessimista de mundo. Não raro, suas histórias se passam em realidades devastadas pela guerra, pobreza e decadência, tendo como protagonistas personagens desajustados e paranóicos.

Em vida, o escritor não fez grande sucesso, ficando bem atrás, em termos de popularidade, quando comparado com os peixes grandes da ficção científica, como Robert Heinlein, Ray Bradbury e os já citados Clarke e Asimov, mas no início da década de 80 o cineasta Ridley Scott viria a dirigir o filme Blade Runner, baseado em um de seus livros, Do the androids dream of electric sheep?, que abriu as portas de Hollywood para Philip K Dick. Desde então muito de seu trabalho já foi adaptado para as telonas, sendo os maiores destaques, sem contar, obviamente, Blade RunnerMinority Report - A Nova Lei (2001) e O Vingador do Futuro (1990).
A soturna Los Angeles futurista de Blade Runner.
(Fonte: http://blu.stb.s-msn.com/)
O filme de Ridley Scott é um filmaço! Um noir futurista sobre um caçador de androides fugitivos. Com diálogos e atuações incríveis, direção segura, efeitos especiais de primeira e um roteiro irretocável, o filme, apesar de não triunfar nas críticas e bilheterias na época de seu lançamento, tornou-se um clássico cult ao sair em VHS. Além de ter sido o primeiro, este é, sem sombra de dúvidas, o melhor filme baseado nas ideias do escritor. Ficção profunda, mais voltada para o aspecto intelectual do que para a correria e ação, Blade Runner é um filme impressionante, que até agora não ficou datado e merece ser sempre revisto, pensado e analisado. 

O diretor holandês Paul Verhoeven não era um novato na ficção científica quando resolveu fazer seu Vingador do Futuro, ele já tinha dirigido um dos grandes clássicos do gênero, Robocop (1987). Inspirado no conto “Lembramos para você a preço de atacado”, o diretor criou um filme de ação com inúmeras cenas e passagens memoráveis.
O grande trunfo do diretor foi não se levar tão a sério. O filme tem um tom escrachado que faz com que inverossimilhanças e a violência gráfica não incomodem o espectador. O roteiro expande a história imaginada por Dick de maneira bastante satisfatória e costura toda a ação com uma história intrigante.

Minority Report adapta um dos melhores contos de Dick, “Relatório Minoritário”. Trazendo o astro Tom Cruise no papel principal, o filme parece mesmo com um “Missão Impossível do Futuro”. O design de produção é fantástico e o filme funciona muito bem como um thriller de ação futurista. Sequências empolgantes de fugas e lutas são amarradas por um belo roteiro. Entretanto, o roteiro retira da trama o final mais bombástico e até, porque não?, racional do conto, adquirindo um tom mais moralista e, eu diria, até sem sentido do que o do desfecho originalmente pensado de Dick, quando o personagem principal é obrigado a tomar uma decisão cruel, porém sensata dentro das situações e possíveis desenrolares de suas decisões.
No universo de Dick nada nunca é o que parece.
(Fonte: http://mundodomanolo.com.br/)
Muitos outros filmes foram baseados em histórias de Dick, alguns utilizando apenas uma ou outra ideia do autor, como O Vidente (2007), com Nicholas Cage, que é vagamente inspirado pelo conto “O Homem dourado”, ou até mais fiéis, como O Pagamento (2003), mas todos de qualidade duvidosa, sendo de medianos a ruins.

Aproveitando o lançamento do (desnecessário) remake de O Vingador do Futuro, a editora Aleph resolveu lançar uma coletânea com todos os contos do autor que deram origem a filmes. O remake em si não é ruim, mas pouco agrega ao cinema sci-fi, sendo uma mistura da versão original da história com uma correria mais estilo "Minority Report" e até alguma influência visual de Blade Runner e de Eu, Robô. O grande trunfo do filme foi trazer às bancas este livro, uma edição inédita no mundo, excelente para quem quer começar a tomar contato com o surtado mundo de Philip Dick.

Curiosamente, as ideias deste americano geraram muito mais filmes do que as de Asimov, Clarke e Heinlein e, se estes ficaram conhecidos como o Big 3 da literatura de ficção, Philip Dick é, sem dúvida, o rei do cinema do gênero.

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